OS SOFRIMENTOS DE JÓ
Jó 1-2
Domingo de manhã, 3 de Março de 2002
Cornerstone church of
skippack, PA
Fred G. Zaspel, Pastor
Introdução
e descrição
O livro de Jó do Velho Testamento é bem conhecido como uma das grandes
peças de literatura que sobrevive ao mundo antigo. Do ponto de vista literário
é uma obra linda, e a sua prosa poética relata cenas cativantes de intensa
paixão. É, propriamente dito, um poema dramático. Aparece como uma peça de
teatro, cena após cena, prólogo, diálogo durante todo o conteúdo da história e
o epílogo.
Mas o que o torna tão intrigante é a sua mensagem. É uma teodiceia
clássica; traça a linha da fundação da justiça de Deus nos Seus procedimentos
com os homens. Está, continuamente, visível o problema do sofrimento e o
relacionamento de Deus com os sofrimentos humanos, aparece sempre como a
questão premente. Lidera Ele bem este mundo? O que nos transmite o nosso
sofrimento em relação a Deus? Estas questões encontram, no entanto, uma
resposta feliz: Deus está lá, mesmo no sofrimento, e não está sendo injusto ou
pouco afectuoso. Nem mesmo está sendo incapaz de lidar com o problema. Existem
boas e certas explicações, existem importantes lições para se aprender.
Os sofrimentos de Jó
Aprendemos estas lições através da experiência de um homem: Jó. Ele
é-nos apresentado como um homem de grande piedade” e era este homem íntegro,
recto e temente a Deus e desviava-se do mal” (1:1). Os versículos seguintes
explicam mais adiante que a sua piedade era consistente, mesmo na privacidade
do seu lar. Fez tudo o que estava ao seu alcance para assegurar a integridade
espiritual de toda a sua família.
Era, também, um homem muito próspero. Os seus bens materiais fizeram
dele “o maior de todo o oriente” (1:3)
Todavia, numa série de eventos terríveis, os quais caíram sobre ele numa
rápida sucessão, Jó perdeu toda a sua riqueza, todos os seus filhos, depois a
sua saúde e depois o apoio de sua mulher.
Os amigos de Jó
Depois chegaram os “amigos” de Jó com os seus conselhos. Tentando
imaginar como podia Jó sofrer tanto, por isso concluíram que Jó deve ser um
pecador terrível. Para eles era apenas uma simples questão de teologia básica,
cuja lógica seria assim. Em primeiro lugar, Deus é, obviamente, soberano e em
completo controlo de tudo o que acontece. Em segundo lugar, Deus é justo e
santo. Assim, naturalmente deduz-se que se formos fiéis, Deus abençoa-nos; e se
não o formos, Deus retirará essa bênção.
Esta era a sua posição teológica, e era este o “consolo” que tinham para
oferecer. “Jó” concluíram eles, “estás a sofrer terrivelmente; por isso, deves
ter pecado terrivelmente.”
O conteúdo principal do livro, consiste, então numa série de três
debates sucessivos à volta deste mesmo assunto. A relação de Deus com
sofrimento e o seu justo castigo para com os pecadores. E através de todo o
debate, enquanto Jó se mantém firme contra as suas acusações, perdeu,
obviamente, o seu apoio.
Mais à frente, no livro, outro amigo aparece na cena. É um jovem cujo
nome é Eliú. E é com Eliú que Jó perde o seu argumento. Eliú começa por se
voltar para os homens mais idosos e recorda-lhes que “os idosos não são sempre
os mais sábios.” Isto para dizer, “Podem ser idosos e respeitados, mas nisto
estão errados.” Mas depois ele volta-se para Jó e argumenta que embora os outros
estejam errados, também ele está. Jó, argumenta Eliú, também não tem o direito
de falar com o faz.
A confusão de Jó
Parece que Jó está basicamente de acordo com a teologia dos seus amigos.
Ele concorda que Deus foi, ambos, justo e soberano e que a bênção deve seguir a
lealdade. Contudo, para Jó existia este grande problema: ele estava convencido
que era leal! Não havia nada nele que legitimasse este sofrimento. De facto Jó
nunca negou que era um pecador. Na verdade, no fim do livro ele confessa descrições
fantásticas de pecado. Mas em referência a este sofrimento, ele mantém ser
inocente. Ele serviu Deus lealmente.
Por isso só havia para o Jó apenas uma conclusão: Deus deve ser injusto!
Ele é, evidentemente, um tirano sem sentimentos que actua caprichosamente com o
seu povo. E o que para os seus amigos era uma indicação do seu carácter
pecaminoso (i.e., sofredor), era para Jó a indicação da injustiça de Deus.
Agora entendamos, Jó nunca se virou assim contra Deus. Ele questiona
Deus mas não O rejeita. As palavras de Jó reflectem uma fé lutadora, que ainda
assim é fé e não uma descrença litigiosa.
Então encontramos Jó a intimar Deus para comparecer em tribunal, por
assim dizer. Ele quer protestar o seu caso, argumentar a sua causa com Deus.
Mas, claro, que tal pensamento é desconcertante. “ Quem pode contestar com
Deus?” Deus, apercebeu-se Jó, derrota-lo-ia, simplesmente. Argumentar com
Deus?! É este, todavia, o seu dilema. Ele sentiu que necessitava de argumentar
com Deus, mas a percebeu-se que não podia. Ele desejou, então um mediador,
alguém que pudesse levar, por ele, a sua causa a Deus.
Então, Jó perdeu a sua riqueza, a sua saúde, o apoio de sua mulher e
amigos e agora parece ter perdido, também, o seu Deus.
É difícil entender adequadamente o horror real da situação de Jó.
Fisicamente, Jó perde uma vasta quantidade de riqueza e
todos os seus filhos, tudo num só dia. Ele próprio é atacado por uma doença que
o deixou com bolhas horríveis espalhadas por todo o seu corpo. Socialmente, é afastado do lugar de
ilustre líder da comunidade, para se sentar num montão de cinzas na lixeira da
cidade. Ali está ele afastado dos seus amigos e família, enquanto vizinhos sem
piedade, insultam-no com canções cruéis. E mesmo aqueles que vieram para o
consolar, agora afastam-se dele. Espiritualmente,
parece ter sido separado do seu Deus. Deus permanece, impressionantemente,
silencioso através de todo este assunto por resolver. Evidentemente que Ele
está zangado com Jó, e sem nenhuma causa. E emocionalmente, apenas podemos imaginar a amargura dos gemidos de
dor de Jó e a aflição da sua mente e espírito, o interior do seu desespero e
solidão. Com tudo isto, podemos, facilmente entender o seu desejo de morrer.
Lições
Todavia, o que é que podemos nós aprender de todo este sofrimento. Que
lições existem para nós que possam ajudar nos nossos momentos de aflição.
1. O sofrimento vem,
frequentemente, como o resultado de um conflito invisível no mundo espiritual.
A primeira e talvez, a mais óbvia lição do livro de Jó é esta: O sofrimento vem, frequentemente, como o
resultado de um conflito invisível no mundo espiritual Uma das coisas mais
notáveis e frustrantes acerca da história do Jó é que nós sabemos algo da sua
experiência, a qual ele próprio desconhece. Há algo a passar-se, muito real,
sobre o qual, Jó e os seus amigos estavam completamente ignorantes. Jó, na
verdade, aparece em cena, depois do acto da estreia. E é neste acto da estreia
que sabemos o que dá origem a toda a ocorrência.
Nesta primeira cena encontramos Satanás perante Deus, gabando-se do seu
sucesso neste mundo. Deus responde apontando Jó e a sua bondade e lealdade, um
desafio ao qual Satanás responde com acusações insultuosas e exigentes.” Ele
serve-te apenas pelo que obtém de ti! Claro que é leal! Porque não seria ele
leal? Olha para a riqueza que lhe tens dado!” E para provar que Satanás está
errado, Deus aceita a aposta de Satanás. Ele dá-lhe permissão para afligir Jó
da forma que ele escolher, apenas não pode tocar em Jó. É isto que dá origem
aos problemas de Jó. E este é o motivo. O
sofrimento vem, frequentemente, como o resultado de um conflito invisível no
mundo espiritual.
Isto adapta-se bem a várias outras passagens da Bíblia, relativamente a
uma ligação angélica com assuntos dos homens, por resolver. O apostole Paulo
fala de “doutrinas de demónios” (1 Tim.4:1). Ele diz que a nossa salvação tem
como propósito mostrar ao mundo angélico, a glória de Deus. (Efes.3:10). De
facto todo o esquema de salvação de Deus é algo que desperta interesse da parte
dos anjos (1 Pedro 1).
Agora, a natureza exacta desta ligação é um pouco difícil de precisar.
Alguns, têm entendido isto em termos de maravilha angélica de que Deus
redimiria, em graça divina, criaturas rebeldes, uma graça divina desconhecida
para o mundo angélico. Outros, tem conjecturado que ao redimir o homem rebelde,
Deus está a justificar-se a si próprio contra a acusação de injustiça. Um
desafio que lhe foi causado a Si próprio pelos anjos caídos, os quais não podem
ser redimidos. Este é o sentido, de acordo com esta opinião, na qual Deus em
redenção humana, mostra aos “anjos” ambas a Sua justiça e Sua graça divina.
Mas, qualquer que seja a natureza precisa desta ligação angélica e
interesse na raça humana, é claro que existe uma guerra espiritual entre Deus e
Satanás. Para pôr isto como palavras de Deus, existe” inimizade entre a semente
de Satanás e a semente da mulher” (Gen.3:15). A destruição de Satanás é certa,
e agora ele está numa furiosa violência contra Deus e todos os que Lhe
pertencem (ver Apocalipse 12;Efes.6:12).
Isto não é dualismo, a ideia antiga de que o bem e o mal são forças
iguais opostas. Acontece que Satanás está numa rebeldia louca contra Deus, e
estando impossibilitado de tocar no próprio Deus, persegue os que O servem. O
campo de batalha é o que Bunyan chamou “a cidade de Mansoul” Satanás está a
trabalhar arduamente para manter os homens afastados de Deus. “ O deus deste
mundo cega as mentes daqueles que não acreditam” (2Cor.4) e “leva-os presos à
sua própria vontade” (2Tim.2:26). Aqueles que estão perdidos pertencem a
Satanás; fazem parte do seu reino. E mesmo depois da conversão, Satanás pode
mesmo ter consciência de que não nos pode afastar de Deus e tirar-nos a
salvação, contudo ele pode usar vários tipos de opressão para nos roubar a
alegria da nossa salvação. Ele pode evitar que nós experimentemos a
bem-aventurança do que nós temos em Cristo. Numa forma prática, ele pode
afastar-nos de Deus. Ou, como diz Calvin, Satanás pode “ levar os santos à
loucura pelo desespero.” Tenho a certeza que entende!
E é disto que Jó e os amigos estavam completamente desconhecedores. Nós
vimos no acto da estreia, mas eles não. A ignorância de Jó de tudo isto está
reflectida em Jó 9:24, onde ele clama a sua frustração, “ Se não é Deus me que
está a fazer tudo isto, então quem é?” Nós lemos isto, e sentimos vontade de
gritarmos para ele, no palco, “Jó, não é Deus! É o Satanás!” Nós, nesta altura,
sabemos mais sobre a experiência de Jó do que ele próprio.
Agora a grande questão que confundiu Jó e os seus amigos era a questão
comum, “Why?”. Para os amigos de Jó, a resposta para aquela questão
encontrava-se na tendência de Jó para pecar. Para Jó, que sabia não merecer tal
aflição, a resposta podia ser encontrada, de preferência, na injustiça de Deus!
Mas, o que nenhum dos lados era capaz de considerar era que ambos estavam
errados! Havia, inteiramente, outra razão. Jó não estava a sofrer porque tinha
pecado. Ele estava a sofrer porque não tinha pecado! Não foi a sua
falta de lealdade para com Deus, mas sim a sua lealdade a causadora de tudo
isto. Simplesmente, nunca ocorreu a Jó que Satanás tinha instigado todo este
envolvimento. Ele desafiou e fez a
aposta. Ele lançou o desafio e,
erradamente, acusou Jó perante Deus: “ele não Vos ama de verdade! Só o dinheiro
lhe interessa.” E agora Jó estava a sofrer, não pelo seu pecado, mas pela honra
de Deus a fim de envergonhar Satanás.
Nós Cristãos estamos habituados a ouvir falar de perseguição. Nós
sabemos que como Cristãos sofreremos nas mãos do mundo. E quando essa
perseguição chegar somos capazes de reconhecê-la como tal, e capacita-nos para
melhor manipulá-la. Mas, quando, digamos, vem a tragédia e a doença, como Jó,
é, frequentemente mais confuso. Parece tão ao acaso e sem propósito. Todavia a
grande lição de Jó é que até isso pode ser perseguição. Pode ser que por causa
de lealdade nós tenhamos atraído o fogo do inimigo!
Pode ser que Deus tenha aceite o desafio, mais uma vez, e mais outra
vez. Ele está a silenciar Satanás através da adoração do sofredor.
Os nossos críticos podem; por exemplo, dizer, “Aquele pregador está
nisto só pelo dinheiro!” ou “Aquele membro da igreja só a frequenta pelo que
pode obter dela, amizade, dinheiro, ajuda, etc.” Mas quando aquela pessoa é
vista em atrapalhações vindas de uma agonia horrível, e ainda assim submeter-se
em humilde adoração perante Deus, continuando a amá-Lo e a servi-Lo lealmente,
ninguém poder dizer nada. Torna-se então evidente que a intervenção de Deus na
vida deste homem é muito profunda e real.
Agora não quero negar que uma pessoa possa
estar a sofrer como resultado de divina castidade. Isto, também, é ensinado
nas Escrituras. Pode, também, ser que o nosso sofrimento seja meramente, uma
ferramenta pedagógica nas mãos do nosso Pai que pelo sofrimento ensina-nos e
forma-nos no que nós devemos ser.
Contudo, o que me tem mais impressionado como muito curioso é que não os
piores Cristãos que sofrem mais, mas sim os melhores! É, com certeza, esta
observação que se torna tão frustrante para nós. Não se enquadra em nenhuma das
nossas altamente envaidecidas teologias. Não temos categoria teológica para
isto. Todavia a lição encorajadora de Jó é que no sofrimento estamos a ser
expostos. Deus tem permitido a Satanás perseguir-nos, para que assim o Seu
trabalho em nós seja mostrado como real, e calará, assim, a boca de Satanás.
Ironicamente nós tornamo-nos no meio de justificar Deus perante Satanás.
Esta lição é, imensamente, importante para nós nos lembrarmos durante o
nosso sofrimento. Compreendendo tudo isto, os nossos sofrimentos até fazem
sentido. Servem um objectivo elevado e maravilhoso.
2. A insuficiência do
raciocínio humano na presença da tragédia e sofrimento.
A secunda lição que aprendemos pela experiência de Jó é da insuficiência do raciocínio humano na presença
da tragédia e sofrimento. Novamente isto acontece no início da história:
Qual é a explicação mais óbvia para o sofrimento de Jó? É, com certeza, o seu
pecado! Foi o que os amigos de Jó pensaram e foi o que o próprio Jó pensou,
embora ele se tenha ofendido com isso por ser injusto.
Contudo, desde o princípio que Jó se justificava desta acusação. É-nos
dito, explicitamente, que ele era um homem justo, íntegro e temente a Deus
(1:1). O narrador explica-nos, cuidadosamente, que não foi o pecado de Jó mas a
sua ausência de pecados que lhe trouxe tudo isso sobre ele. Foi, precisamente,
por Jó ser um homem bom que ele
sofreu tanto.
Jó não sabia tudo o que nós sabemos. Ele não viu a estreia do primeiro
acto. Mas sabia que os seus amigos não estavam bons da cabeça. Isto reflecte-se
no capítulo 16 onde ele os descreve como “fala baratos”. Os conselhos deles não
capazes de o satisfazer ou dar-lhe algum conforto. Por muito elevada e sublime
que fosse a sua teologia, eles não podiam falar em relação à situação dele.
E Jó também não! Esse era,
todavia, o problema de Jó. Ele não tinha uma resposta adequada para os seus
problemas. Sem explicação. Sem motivo. Ele não podia explicar os seus
sofrimentos. Através de todo o livro nós vemos Jó tentando compreender, examinando,
desejando, procurando. Ele está, de facto, tão desesperado que, finalmente,
frustrado lamenta a vida e sugere que Deus está a puni-lo injustamente.
Este problema é sempre o mesmo, não é? Este é sempre o grande teste. Se,
pelo menos, nós pudéssemos saber o motivo.
Se, ao menos, podessemos ver o
plano de Deus do princípio ao fim, este sofrimento seria mais tolerável. E o
que nos desmoraliza é sabermos que as nossas conclusões são inadequadas. De
certo modo sentimos que se, Deus nos pusesse a par das coisas, nos explicasse
porque permite que estas coisas más nos acontecem quando estamos a tentar com
tanta dificuldade servi-Lo lealmente, então podíamos lidar melhor com a
situação.
Mas Deus nunca disse a Jó o porquê. E a nós também não diz, com
frequência. Em vez disso, o que Ele faz é dizer-nos para confiarmos Nele.
No final do livro, Deus fala finalmente e responde ao desafio que Jó Lhe
faz, pedindo-lhe uma explicação. Contudo a resposta não é a esperada por Jó. Em
vez de explicar a Jó o motivo do seu sofrimento, ele argumenta com Jó: “Criaste
o mundo? Fizeste a chuva? Quem controla a ‘natureza’? Quem cria e controla as
grande feras e os ventos e o relâmpago?” Isto para dizer, “Estás mesmo a
questionar-me, Jó? Não há nenhuma parte do universo que esteja fora da minha
autoridade. Devo-te, mesmo, uma explicação? Justificar-te-ias
desacreditando-me? Parece-te, mesmo, que Eu necessito da tua ajuda para gerir
este universo?”
Vê-se o qual o objectivo? Quando nos encontramos a sofrer, continuamos,
ainda, a confiar em Deus? Ou sentimos que Ele nos deve uma explicação? Estamos
a retirar a honra a Deus quando só confiamos Nele, quando somente compreendemos
o que Ele esta a fazer. Isso não é fé, de forma alguma. Nós honramo-Lo quando
confiamos Nele implicitamente. Quando podermos dizer com um coração cheio de
amor, tal como Jó “Ainda que ele me mate, nele esperarei” (13:15) Isto é que
honra Deus.
Como vê, Deus não nos dá todos os detalhes. Contudo, deu-nos mais do que
suficiente informação para que confiemos Nele. Não é Ele O que nos criou? Não é
Ele que mantêm o equilíbrio de todas as coisas? Podemos ainda ir mais longe:
Não é Ele O que nos salvou? Não é Ele O que desistiu do Seu único Filho por
nós? Não podemos nós encontrar Nele boas
razões de confiança, mesmo quando não vemos os Seus desígnios?
A lição número dois é muito importante e necessária para sermos bem
sucedidos nas nossas tribulações. As nossas próprias razões são inadequadas.
Todavia, temos algo melhor. Nós temos Deus.
3. Deus é soberano e supremo acima
de Satanás e do nosso sofrimento.
A terceira lição da experiência de Jó é, também, muito óbvia. É assim: Deus é soberano e supremo acima de Satanás e
do nosso sofrimento. O livro não explica todos os métodos de Deus no Seu
governo sobre toda a criação. Todavia, apercebeu-se, no início, que Satanás
teve que obter permissão? Apercebeu-se que ele teve que apresentar relatório?
Que ele teve de obter permissão, novamente, para fazer mais? Reparou que lhe
foram impostos determinados limites?
A frustração de Jó estava relacionada com o facto das coisas parecerem
tão erradas, injustas, descontroladas, casuais e sem justificação. Tanto assim
que ele clama na sua frustração, “Se não é Deus, quem mais podia ser?” E é
nesse momento que nós queremos gritar para o palco, “Não, Jó! Não é Deus, é
Satanás! Mas não te preocupes, Deus tem-no preso a uma trela!”
Não é isto mesmo que nós precisamos que alguém nos faça quando estamos a
sofrer? Precisamos que nos lembrem que Deus não está ausente. Que Satanás não é
Deus. Deus é Deus, e (como muitos teólogos diriam) o diabo é o Seu diabo.
Nós amamos dizer que Deus é amor, e quando o dizemos, é claro que nos
referimos à cruz. E bem o devemos fazer. Mas o teste se acreditamos ou não
nisso está no nosso sofrimento. Deus ama nessa altura? Consegue acreditar
nisso? Pode você dizer, no meio do seu pior dia dizer, “ O Deus que me ama
tanto que enviou o Seu Filho para morrer em meu lugar, o Deus que é meu Pai,
este Deus grandioso, bondoso, maravilhoso, carinhoso está a controlar, firmemente, tudo isto! Não sei o que ele pretende
fazer. Mas eu conheço-O! E sei que Ele me ama. E sei que Ele é bom, demasiado
bom para me fazer mal. E sei que ele é sábio, demasiado sábio para cometer um
erro.
Considerando que sem esta
verdade, (a afectuosa supremacia de Deus acima do nosso sofrimento) podemos
entender bem o porquê de as pessoas perderem a cabeça em tempos de dificuldade.
É um sentimento vazio e triste! Sentir que nada faz sentido, deixa-nos, deveras
desesperados! Mas equipados com esta verdade, existe alguma coisa que não
possamos encarar? Quando a doença aparece na nossa casa, ou morte, ou colapso
financeiro ou qualquer outra coisa, há mesmo alguma razão para desesperar?
Poderá ser razoável ou certo para um Cristão,
homem ou mulher ficar de rastos e viver em continua frustração? É da nossa
competência olhar para o céu com um coração crente e dizer, “Deus, não encontro
explicação para o que está acontecer, mas inclino-me perante Ti e tomo como
vindo da Tua mão, tudo o que tu permitas.” Positivamente, isto é fé.
4. Temos de ler este livro como
Cristãos.
Finalmente, temos de ler este livro como Cristãos. Isto é, temos de lê-lo, usando os
nossos óculos do Novo Testamento.
Jó sente-se perdido, do princípio ao fim do livro, perdido num labirinto
de questões sem resposta. Prioritário às suas preocupações está o seu anseio
por Deus. É por isso que o ouvimos dizer coisas como “ Ó se eu soubesse onde O
encontrar!” “Ó se eu tivesse alguém que fosse até Ele, por mim!” E assim por
diante.
E é aqui, precisamente, que nos encontramos a passos gigantes, adiante
de Jó. Ele procurava um mediador, alguém que pudesse falar por ambas as partes.
Nós temos esse mediador, e conhecemo-Lo, Ele é Jesus Cristo. Jó queria alguém
que, não só advogasse o seu caso, mas também que compartilhasse os seus
sentimentos. Nós temo-lo, e Ele é o que” esteve tentado em todos os sentidos,
tal como nós, e apesar disso sem pecado.” Ele está “sensibilizado com os
sentimentos das nossas enfermidades,” e por isso, convida-nos para irmos,
audaciosamente, perante o Seu trono de graça divina e lá encontrar “bondade
para ajudar em tempo de necessidade.”
Nesta altura, há uma diferença abismal entre nós e Jó. Nós temos a
revelação de Cristo, que disse-nos e mostrou-nos o Seu grandioso e eterno amor.
Ele disse-nos que através Dele, nós temos acesso ao Pai, e Ele disse-nos que
podemos e devemos ir até Ele com todos os problemas que encaramos, e que O
encontramos, não apenas solidário, mas cheio de bondade e misericórdia
perfeitamente adaptadas à nossa necessidade específica.
Com toda esta vantagem sobre Jó, a fé de Jó é, sobretudo, notável. E a
nossa é contudo, razoável.
Conclusão
Existem, então, razões para o nosso sofrimento que nós podemos não
saber. Mas existe um Deus, o qual nós conhecemos, cuja autoridade é, inalteravelmente sólida em todas as circunstâncias da
vida, cujo carácter é, inalteravelmente justo e cujo coração, para
connosco, é inalteravelmente bom no seu grandioso amor, através de Jesus
Cristo. Neste Deus eu posso, implicitamente, confiar.
______________________________________________________________________
Artigo Original Inglês: “The
sufferings of Job” Nome de Autor: Fred
G. Zaspel, Pastor 2002-March "Os
sofrimentos de Jó"
Tradução: Conceição Galego 2006-Maio